O dia começou cedo. Mas não tão cedo como se queria, e já com notícias de um choque em cadeira de 5 carros na A2 perto da saida de Grandola, e com um nevoeiro que não deixava ver nada um palmo à frente do nariz, que me fez pensar se valeria realemente a pena a viagem para Sul.
Ainda deu para ver a partida do Carlos Sousa, dos Jerónimos às 9:15, pela TV, e depois, foi hora de me fazer à estrada. Pelas minhas contas, às 10:45 conseguia estar na zona da comporta, na terceira zona de espectaculo onde o primeiro carro passava as 11:40. Dava mais que tempo. Com jeitinho e ainda dava para ver uma ou outra mota. Estava tudo controlado... (aparentemente). Dava para ver o Carlos Sousa e tentar umas fotos dos principais carros.
Pois saiu quase tudo ao lado. O carro só se consegui estacionar ao meio dia e aventura passou por cerca de 10 km feitos a pé com pouca noção de orientação. E aquilo que parecia uma miragem aconteceu. A fraca noção de espaço e tempo levou-me ao km 73, numa zona que não era de espectaculo e onde os carros passavam a centimetros dos inconscientes e espertalhões que insistiam em correr o risco.
O Dakar valeu pela boleia na caixa aberta duma pickup de um agricultor que nos deu um boleia de 300 metros-dos-dele que eram de certeza de 3km-dos-nossos. E valeu pelos companheiros de aventura que entretanto se fizeram e que proporcionaram que a loucura acabasse por se tornar mais divertida e segura. Valeu pelas historias que entretanto se ouviam pelo caminho e que nos dava vontade de rir:
- Nós já andamos praí uns 3 mil metros!
- 3 mil metros? Nãoooo, nós andamos uns 300 mil metros!!!!!
(um dialogo muito parecido ao famoso entre o Telmo e namorada no BB, sobre quantos anos tinha o Sporting)
Era disto que se ouvia por lá. Disto e muito mais que contarei a quem estiver interessado.
Mas o que vi deu essencialmente para uma coisa. Respeitar ainda mais e reconhecer a capacidade fisica e principalmente psicológica daqueles senhores e senhoras que têm a loucura e a oportunidade de concretizar o sonho de ir até Dakar numa maquina com 2 ou 4 rodas, coisa que para alguns pode parecer uma coisa muito simples e sem importancia.
Bem sei que o Dakar em Portugal é só um aperitivo para o que eles vão encontrar por Africa, mas como bom apertivo deu para abrir o apetite. Deixou ainda mais o bichinho pelos jipes e pelo TT, a vontade de não vender o meu, e de exprimentar um percurso simples qualquer dia. O Dakar deve ser realmente muito mais do que um simples rali que passa no deserto do Saara. É espirito de aventura. É solideriedade como nunca tinha visto. É paixão e coragem. Agora entendo melhor a importancia para quem fez um Dakar e como deve ser essencial poder chegar ao fim e terminar a prova.
Há quem não perceba a loucura. Eu também não sei se das 400 mil pessoas que estiveram a ver o Dakar na zona de Grandola este Sábado, todos o fizeram simplesmente por pura curiosidade ou se por um gosto pelos carros e aventura. Desculpem mas se há milhares de pessoas que vão em Romaria ver o Benfica de 15 em 15 dias, porque não poderá haver outras tantas que não queiram perder uma oportunidade quase unica da vida delas, de ir ver o rali mais importante de sempre... são gostos é verdade.
Carros em velocidade, areia, pó e máquinas fotográficas não é certezamente a combinação ideal, é dificil e divertida. Se o Dakar não tivesse valido por mais nada, valia simplesmente pela emoção de ver o público a gritar e a aplaudir quando a Elizabete Jacinto passou. Indiscritivel. Emocionante.
Agora é ficar a torcer pelos bons resultados da "armada portuguesa".
Elizabete Jacinto
Etapa 1: Lisboa - Portimão
6. Janeiro . 2007
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