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Publicado segunda-feira, julho 21, 2008 por Unknown às 03:17 *
Este sábado a crónica da Catarina Portas no Público (para quem quiser ler na integra está no rodapé aqui em baixo) deixou-me a pensar... Termina assim: Na vida, entre possuir ou sentir, o que escolher? Se estimamos antes tudo o que é lírico, inesperado, fugidio, surpreendente e arrebatador, talvez não seja o cofre lugar conveniente para o guardar, porventura de nada sirva a fortaleza. Pois haverá lugar mais seguro para se guardar o que mais desejamos e o que mais nos venha a importar que a palma das nossas mãos?Fala de um cofre que comprou e fez-me mexer no "meu", que estava fechado há muito muito tempo. Não está escondido, não tem fechadura, não é tipico, nem na aparência nem no conteudo. Só estava arrumado. Tem o melhor de mim e de tudo o que já fui. E soube bem reencontrar e recordar tantas histórias que guardo: boas e más, de muita loucura. Trouxeram-me paz. Mas a verdade é que as trocava a todas por sentir uma só na palma da minha mão. a tua. ---------------------------- in Público, O cofre 19.07.2008, Catarina Portas Esta semana comprei um cofre. É quase da minha altura, deve ter para lá de um século e parece pesar pelo menos uma tonelada. A intrincada e árdua operação do seu transporte e instalação envolveu sete pessoas e arrastou-se por dois dias. Escorregou, empurrou-se, quedou imóvel, foi puxado desesperadamente. Quando finalmente o lográmos alçar para o seu posto, sobre o resto do móvel algo arrebicado que o completa, cantámos vitória e comemos chocolate. E contemplámo-lo. Ocupando o seu novo lugar, num escritório de loja centenária, parecia ter chegado a casa.
O cofre é um monstro, de facto. Mas um monstro com o seu encanto. A sua possante porta de ferro foi um dia suavemente pintada com ornamentos dourados, agora algo esbatidos, e ao centro o manípulo de cobre insiste em brilhar vaidoso. Delicado por fora portanto mas, atrás daquela porta de quase dez centímetros de espessura, arrogantemente inexpugnável lá dentro. Ao olhar para aquele ser opaco e desafiador à minha frente, que até apetecia baptizar com nome de gente para sossegar, dei por mim a pensar que também há tanta gente assim, tão fácil por fora e tão difícil de agarrar no âmago. O que guardarão dentro? Uma tragédia grega, um terramoto, um tesouro frágil, um outro mundo ou afinal coisa nenhuma, apenas o vazio existencial e uma imensa falta de imaginação quotidiana? No caso do cofre, sendo-se o feliz possuidor da sua chave bizarra e única - e a sensação tem o seu quê de emocionante - tornamo-nos facilmente o seu bom amigo. Cá está um cúmplice, com quem partilhamos um segredo só nosso, e a quem confiamos o nosso futuro. Apenas uma sombra furtivamente penetra em nós: a desconfiança de nós próprios - pois e se não somos capazes de guardar aquela chave, com a rotina dissolutamente distraída que se foi instalando na nossa vida? É que se perdemos a chave, nunca mais lá chegamos e, muito provavelmente, perdemos os nossos haveres mais valiosos ( em alternativa, arrombamos e danificamos o cofre, damos cabo da nossa protecção para recuperarmos a nossa vida - e essa perspectiva também não é animadora de tão dolorosa que se adivinha). Quanto a haveres, valores, bens, existências, onde resguardá-los? No interior de um cofre consta que podemos conservar o que de mais importante temos. Mas, claro, falta definirmos o que será mais importante. Dinheiro ou jóias, contratos ou cheques em branco, cartas de amor ou testamentos, é tão diverso e em mudança aquilo que nos importa na vida. Na vida, entre possuir ou sentir, o que escolher? Se estimamos antes tudo o que é lírico, inesperado, fugidio, surpreendente e arrebatador, talvez não seja o cofre lugar conveniente para o guardar, porventura de nada sirva a fortaleza. Pois haverá lugar mais seguro para se guardar o que mais desejamos e o que mais nos venha a importar que a palma das nossas mãos? Etiquetas: catarina portas, cofre, cronica, publico
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Publicado quinta-feira, julho 10, 2008 por Unknown às 18:05 *
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Publicado quarta-feira, julho 09, 2008 por Unknown às 05:57 *
"Quero fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria. Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo".
O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade,ficam "praticamente" apaixonadas.
Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas,farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje.
Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá tudo bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?
O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade.
Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo.
O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto.
O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A"vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não dá para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária.
A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.
Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir.
A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também."
Miguel Esteves Cardoso in Expresso por aquiEtiquetas: expresso, miguel esteves cardoso
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Publicado domingo, julho 06, 2008 por Unknown às 04:58 *
que me fazem voltar a escrever. que nem o tempo nem o espaço nos afastam. Só ficam mais perto. que me aceitam como sou, cheia de defeitos, falhas e inconsistências, mas que gostam de mim assim. que me desculpam os atrasos na chegada com um sorriso. que me abraçam e se riem comigo. que me ouvem e aturam. que me querem ver feliz. que me ensinam e me fazem por em causa as tantas certezas que julgo ter. que me fazem perceber a razão de cá andar e dão sentido à vida quando às vezes me sinto a perder o norte. que me abrem a porta da sua casa e me enchem o copo do melhor vinho que têm para oferecer. que tomam conta de mim, mesmo sem saberem. e que me conhecem tão bem! Que são tão parte de mim. A melhor parte. obrigada.
Os olhos dos meus amigos
Olhares obrigatórios
Leituras diárias
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