Mirandela, quem te viu, há-de voltar



Mirandela . 5 Agosto . 2006

Não nasci nesta terra. Dizem que sou sindicalista vidreira. Mas foi aqui que passei durante muitos anos, grande parte das minhas férias.
O primeiro fim-de-semana de Agosto, foi sempre a razão para um encontro da familia em Mirandela. O fim-de-semana da Festa. A noite dos Bombos e o jantar que já é tradição de 15 anos e que sempre fui desde bem pequena. A noite de Sábado com o Fogo que ninguém quer perder e onde toda a gente se junta nas margens do rio.

Durante todos os estes anos, muitas histórias aconteceram neste fim-de-semana. Muitas historias tristes. A festa com tudo o que tem de bom, pelo convívio e o encontro de amigos e família tinha todos os anos uma historia triste. Nas noites onde a cerveja é a maior companhia há sempre histórias estúpidas para acontecer.

O atropelamento do Zé Nuno em plena ponte nova, quando ia pela mão do meu irmão. A cana do foguete no olho do CaNuno que vi passar numa carrinha de caixa aberta. O zagalote em ricochete que apanhou o tornozelo do meu primo à saída da discoteca. O gang dos tacos de basebol que ameaçaram os meus amigos. Todos os anos havia uma história do género. Em Mirandela as pessoas são de extremos. São as mais simpáticas, mas também desafinam por nada.

Mas a festa também tem muitas coisas boas. Com a desculpa da Festa devo ter visto o sol nascer pela primeira vez na vida com 11 anos. Comi às 8 da manhã moelas, camarão e pão quente. Bebi a primeira cerveja. Tomei banho ao nascer do dia e adormeci na Maravilha, sem sequer ir a casa. Tudo, a reboque das minhas primas, 10 anos mais velhas, que me levavam na boa, como se fosse da idade delas.(Para o meu irmão já não era tanto assim.)

Agora a festa já não é tanto estas coisas. As minhas primas (10 anos mais velhas) já têm filhos, mas este fim-de-semana é sagrado para todos e lá fazemos um esforço para nos encontrarmos. Mas o incrível é que não deixam de fazer a maior parte das coisas que faziam. Os putos já vão também. Na cadeira, pela mão, as crianças já vivem o espírito. Este ano até o meu irmão voltou (passados quase 9 anos). E como lhe disseram, rapidamente se relembrou dos velhos hábitos (deitar as 10 da manha e dormir o dia todo).

A festa é tradição: É a noite dos bombos, é a noite do Fogo de Artifício. Durante muitos anos fui a tocar o meu bombo. Desta vez fiquei a vê-los a passar. Durante muitos anos, passei a noite a dar a volta à cidade a pé com um bombo às costas e chegava ao fim com uma mão cheia de bolhas e com o coração cheio. Aquele passeio durante a madrugada pela cidade velha, sempre foi uma alegria enorme para mim. O encontro com o passado. Com o lugar onde os meus avós viveram, onde os meus pais cresceram e onde me sinto mais próxima deles.

Mas mais que tudo a festa é convívio. É a oportunidade de juntar à mesma mesa 50 pessoas que só se encontram todas uma vez no ano, mas que parecem ter estado juntas no dia anterior. É tão bom.

Sim, porque qualquer pequena coisa é razão suficiente para ficar à volta da mesa durante horas.

E é por tudo isto que vale a pena fazer 1000 km em 2 dias.
Por tudo isto e pelos meus tios-avós de 89 e 94 anos que estão ali para as curvas, e que quando, às refeições me estou a servir pela segunda vez, me dizem:
- Não comes nada!!!


1 Respostas ao “Mirandela, quem te viu, há-de voltar

  1. Blogger Ana 

    Eles é que sabem JU. A partir dos 90 anos , são gente sábia :)

     
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