Paço de Arcos . Outubro . 2003
Sou terra. Não sou água. Nem ar. Às vezes, sou fogo.
Mas sim, decididamente sou terra.
terra-a-terra.
Às vezes chego a ser demais. Gostava de conseguir sonhar mais e seguir o sonho... mas não, sou terra.
Gosto de ter os pés no chão. E de saber os meus passos de acordo com o tamanho das minhas pernas.
Sou terra, mas na sombra, a observar os que estão ao sol.
E ser terra fez de mim realista. Pessimista, até.
Fez-me acreditar nas pessoas e nos seus sentimentos. E nunca na relatividade das palavras. Nem que as palavras são só palavras. Que num momento fazem todo o sentido e dois momentos a seguir deixam de fazer. Para a terra palavra é palavra.
E sou uma terra com sentimentos. Com valores. Com um arquivo grande: guardo tudo.
A minha terra fez-me ser inocente muitas vezes. Ingénua. Fez-me acreditar demais nos outros. Nas suas certezas. Nas suas palavras. E depois construir muralhas em volta e proteger-me.
Fez-me olhar. Observar tudo. Muitas vezes. Porque tudo muda a cada instante. Apaixonar-me pelos olhares dos outros. Conhecer as diferenças e aceitá-las (às vezes com revolta). Mas procurar sempre soluções. Conhecer o chão que piso. E viver um dia de cada vez.
Devo ser, para a maior parte dos outros, demasiado óbvia.
Provavelmente, desinteressante e banal.
Porém honesta.
E durmo de consciência tranquila pela verdade que sou.
daqui terra, escuto.
o mundo não está feito sempre/só de terra...mas é verdade que também é essencial...
...foi optimo rever-me nas tuas palavras...
...citando-te:"Gosto de ter os pés no chão/construir muralhas em volta e proteger-me./Observar tudo./Apaixonar-me pelos olhares dos outros."
...embora me considere terra, mas terra molhada...
*
ai jukita...tantas saudades tuas!!! obrigada por ontem...
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