corrida.




Percorro a cidade à procura de mim.
Do lugar onde quero estar.
Onde sou eu.
Somos tudo, cheios de certezas e um dia percebemos que isso é quase nada.
Sabemos muito pouco. E é pouco interessante.
De pouca importância.

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Está tudo arrumado. Tudo organizado. Pronto para começar.
Está tudo perfeito e... afinal falta alguma coisa.
Não que falte na realidade, ou que essa falta seja mensurável, mas há qualquer cá dentro que não nos deixa começar.

Vem-me à cabeça uma conversa de uma manhã de setembro sobre a ideia de não estarmos bem em lado nenhum. Mesmo arrumando tudo à nossa volta, fugindo, mudando de lugar, ainda assim continuamos sem conseguir começar. Seja o que se queira começar.

Podemos tentar procurar esse lugar, chegar e perceber que não é ali, sair e continuar a procurar. Ou simplesmente deixar que o acaso nos faça chegar a qualquer lado que seja esse lugar.
E facilmente se percebe que o problema não está no lugar mas provavelmente em nós.

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Não pensem que as torres desaparecem assim, que nos livramos delas. Inquietam-nos. Caem sobre as nossas cabeças ou contemplam-nos, imóveis, implacáveis. E imaginava eu que mal reparara nela. É assim: estamos diante das coisas; não as vemos. Só mais tarde, absurdamente, sabemos que apenas fizemos isso: vê-las e possuí-las. E ser apanhado por elas. Era julho. Um clarão de luz caía sobre a cidade, vinha por trás e batia-me nas costas, despenhando-se no quarto como uma onda de água. Quarto ascético. Paredes nuas, cama de ferro, uma prateleira para livros, a cadeira, a mesa, o lavatório esmaltado. No chão, a minha mala ainda por abrir. Teria eu uma vocação? Qual seria? Que fazia eu nesse quarto? Que significava tudo isso?
- Que significa tudo isto? - disse eu em voz alta, e voltei-me para fora. (...)

"Escadas e Metafísicas"
Os Passos em Volta, Herberto Helder

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