Paço de Arcos . Outubro . 2003
Sou terra. Não sou água. Nem ar. Às vezes, sou fogo.
Mas sim, decididamente sou terra.
terra-a-terra.
Às vezes chego a ser demais. Gostava de conseguir sonhar mais e seguir o sonho... mas não, sou terra.
Gosto de ter os pés no chão. E de saber os meus passos de acordo com o tamanho das minhas pernas.
Sou terra, mas na sombra, a observar os que estão ao sol.
E ser terra fez de mim realista. Pessimista, até.
Fez-me acreditar nas pessoas e nos seus sentimentos. E nunca na relatividade das palavras. Nem que as palavras são só palavras. Que num momento fazem todo o sentido e dois momentos a seguir deixam de fazer. Para a terra palavra é palavra.
E sou uma terra com sentimentos. Com valores. Com um arquivo grande: guardo tudo.
A minha terra fez-me ser inocente muitas vezes. Ingénua. Fez-me acreditar demais nos outros. Nas suas certezas. Nas suas palavras. E depois construir muralhas em volta e proteger-me.
Fez-me olhar. Observar tudo. Muitas vezes. Porque tudo muda a cada instante. Apaixonar-me pelos olhares dos outros. Conhecer as diferenças e aceitá-las (às vezes com revolta). Mas procurar sempre soluções. Conhecer o chão que piso. E viver um dia de cada vez.
Devo ser, para a maior parte dos outros, demasiado óbvia.
Provavelmente, desinteressante e banal.
Porém honesta.
E durmo de consciência tranquila pela verdade que sou.
daqui terra, escuto.
lisboa . 2005
Era Novembro. Sexta feira. 11 da manhã. Cruzámo-nos num dos muitos corredores da faculdade. Ainda sei em qual.
O teu olhar prendeu-me. Sempre o olhar. Nessa e nas outras vezes todas em que nos cruzámos. E reparei em ti.
Fiz o impensável. Corri atrás, como acho que nunca mais vou correr na vida por ninguém.
Dizem que o tempo cura tudo e ajuda a esquecer.
Já não doi, mas mesmo depois de 8 anos (talvez mais), ainda tenho tudo tão presente como se tivesse sido na semana passada.
O amanhecer e olhar a cidade a acordar.
Os teus caracois.
O teu cheiro.
O teu olhar.
A pessoa que via em ti e que não eras.
O meu tempo é muito lento. Lento demais.
Nunca mais te vi. Essa foi a parte boa. Ajudou a arrumar.
Mas foi mais uma vez um cheiro (o teu), que me fez pensar-te.
Mas como em tudo há uma parte boa: por tua causa fiz duas amigas. Para a vida.
Obrigada.
15 . Junho . 2007
15 . Junho . 2007
15 . Junho . 2007
15 . Junho . 2007
Etiquetas: desabafo
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